José Aldemário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, em depoimento à CPI da Petrobras no ano passado |
03/07/2016 02h00
Uma mensagem apreendida pela Polícia Federal no celular do empresário Léo Pinheiro, sócio da OAS, diz que a empreiteira conquistou uma obra de cerca de R$ 1 bilhão na Guiné Equatorial "com ajuda do Brahma".
Era esse o codinome usado por Pinheiro para designar o ex-presidente
Lula, segundo interpretação da Polícia Federal em análises feitas na
Lava Jato.
A obra é uma estrada de 51 quilômetros que liga a capital da Guiné
Equatorial, Malabo, a Luba, os dois principais portos daquele país
africano. Bancada pelo governo, a obra foi contratada por US$ 320
milhões, o equivalente a pouco mais de R$ 1 bilhão.
A mensagem foi enviada em 31 de janeiro de 2013 por Jorge Fortes,
diretor de Relações Institucionais da OAS em Brasília naquela época,
para Pinheiro.
O objetivo da mensagem era que Pinheiro conseguisse, com a ajuda de um
ministro cujo nome não é citado, que a presidente Dilma Rousseff
colocasse a pedra fundamental da estrada.
O diretor da OAS dizia que a obra ficava ao lado do aeroporto onde Dilma desembarcaria em fevereiro de 2013.
Dilma visitou a Guiné Equatorial naquele mês, perdoou uma dívida de R$
27 milhões do país, mas não há notícias de que tenha atendido o desejo
do executivo da OAS.
A Guiné Equatorial é governada por um ditador, Teodoro Obiang, que se
tornou aliado de Lula quando o ex-presidente decidiu que o Brasil
deveria ter uma presença forte na África. Ele é o ditador africano que
está há mais tempo no poder: 36 anos.
Antes de Dilma visitar a Guiné Equatorial, o filho do ditador, Teodorín
Obiang, passou o carnaval no Rio e conseguiu escapar de um pedido de
extradição feito pela França graças a ajuda de executivos da OAS.
Numa mensagem enviada a Pinheiro após o Carnaval de 2013, um diretor da
empreiteira chamado César Uzeda diz o seguinte: "Nós avisamos a Teodorim
na quarta-feira e ele deixou o Brasil, como a França pediu ao gov.
brasileiro a extradição dele, havia o risco de ele ficar impedido de
deixar o Brasil. Isto é mal [sic] para os negócios brasileiros lá. Vamos
ver como fica a viagem de Dilma", dizia.
A França decretou a prisão do filho do ditador em 2012, após ele ter
sido condenado naquele país por lavagem de dinheiro após comprar com
recursos públicos a coleção de arte do estilista Yves Saint Laurent
(1936-2008), por US$ 20 milhões. Teodorín também é alvo de uma apuração
em São Paulo, onde tem imóveis e carros de luxo, por suspeita de lavagem
de dinheiro.
O suposto lobby de Lula para empreiteiras brasileiras na África é
investigado pelo Ministério Público Federal em Brasília, em uma apuração
paralela à Lava Jato.
Nessa operação, o ex-presidente é investigado sob suspeita de ter
recebido benefícios da OAS, como as obras de um sítio em Atibaia (SP) e
de um apartamento tríplex em Guarujá (SP), em troca de apoio para
conseguir obras no Brasil e no exterior.
A empreiteira também bancou a manutenção do acervo do ex-presidente em
depósito da Granero, com gastos de cerca de R$ 1,3 milhão entre 2011 e
2016.
O Instituto Lula nega que o ex-presidente tenha recebido qualquer
benefício ilícito da empreiteira e defende que o lobby para empreiteiras
brasileiras no exterior é um dos atributos de quem ocupou o cargo de
presidente. Cita as atividades de Bill Clinton, ex-presidente dos EUA.
OUTRO LADO
O Instituto Lula não se manifestou sobre a citação ao ex-presidente em
mensagens de Léo Pinheiro, sócio da OAS, indicando que o petista ajudou a
empresa entrar no mercado da Guiné Equatorial.
"Não comentamos vazamentos ilegais de mensagens de autoria de outras pessoas", diz a nota.
Anteriormente, Lula já disse que é legítimo que um ex-presidente atue
para defender interesses de empresas nacionais no exterior.
Edward Carvalho, advogado de defesa de Léo Pinheiro, não quis se pronunciar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
POLÍTICA E ECONOMIA