segunda-feira, 4 de julho de 2016

Dinheiro desviado financiou blog e escola de samba, diz Lava Jato


Foto: Danilo Verpa/Folhapress
Agente da PF deixa sede do banco Schahin, na av. Paulista, após buscas da 31ª fase da Lava Jato
Agente da PF deixa sede do banco Schahin, na av. Paulista, após buscas da 31ª fase da Lava Jato

Os investigadores da Lava Jato afirmam que a propina com origem em uma obra da Petrobras no Rio financiou uma escola de samba, blog e familiares do ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira.

O petista, que está preso desde a semana passada, é o principal alvo da 31ª fase da operação, deflagrada nesta segunda-feira (4).
A informação sobre o destino do dinheiro pago, de acordo com a investigação, partiu do acordo de colaboração premiada do ex-vereador Alexandre Romano, que chegou a ser detido na Lava Jato no ano passado.
Ele afirmou que intermediou propina para Ferreira e que, para isso, usou suas empresas, a Oliveira Romano Sociedade de Advogados, a Link Consultoria Empresarial e a Avant Investimentos e Participações. Ainda segundo o delator, o dinheiro, estimado em R$ 1 milhão, veio de construtoras integrantes do consórcio Novo Cenpes, como a OAS e Carioca Engenharia. Romano afirmou que simulou contratos.
Entre os destinatários dos repasses a pedido de Ferreira é a Sociedade Recreativa e Beneficente Estado Maior da Restinga, uma escola de samba de Porto Alegre, e a madrinha da bateria Viviane da Silva Rodrigues.
Foram identificados pagamentos de R$ 45 mil à agremiação e diversos repasses a Viviane.
"A escola de samba era vinculada a ele [Ferreira]. Esses pagamentos foram indicados a Alexandre Romano", disse em entrevista coletiva o procurador da República Roberson Pozzobon.
"Ele buscava apoio político nas mais variadas frentes", comentou o procurador. "Não eram pagamentos que revertiam às contas do partido exclusivamente, mas havia benefícios pessoais." Parentes e empresas ligadas ao ex-tesoureiro também receberam parte das transferências.
Viviane, 37, é madrinha de bateria da escola Estado Maior da Restinga há 13 anos. Também foi rainha de bateria da escola Acadêmicos de Tatuapé, de São Paulo, em 2012. Em 2013, ela concorreu ao posto de Musa do Carnaval, um quadro do programa de televisão Caldeirão do Hulk, na Globo.
Viviane chama os "afilhados" (os ritmistas da escola) de "tinguerreiros", uma referência ao termo "Tinga", um apelido do bairro Restinga. A madrinha chegou a apresentar um programa de televisão sobre carnaval em um canal comunitário de Porto Alegre.
ESQUEMA
Nesta fase da Lava jato, denominada "Abismo", foi identificado o pagamento de R$ 39 milhões em propina entre 2007 e 2012 –sendo que R$ 1 milhão teria beneficiado diretamente Paulo Ferreira.
Os valores viriam de um esquema de fraude em licitação para reforma do Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras), na Ilha do Fundão, zona norte do Rio de Janeiro.
As investigações, corroboradas pelo acordo de leniência e acordos de colaboração com a empresa Carioca Engenharia e seus executivos, indicaram a formação de um cartel na disputa por três obras da Petrobras em 2007: uma sede administrativa em Vitória, o CIPD (Centro Integrado de Processamento de Dados), no Rio, e o Cenpes.
Além da Carioca Engenharia, a OAS, a Construbase, a Construcap e a Schahin Engenharia ficaram com a última obra pelo Consórcio Novo Cenpes.
De acordo com o Ministério Público Federal, a construtora WTorre, que não havia participado dos ajustes, apresentou proposta de preço inferior. As empresas, então, teriam pagado R$ 18 milhões para que a empreiteira saísse do certame, permitindo que o consórcio renegociasse o preço com a Petrobras.
O contrato foi fechado em cerca de R$ 850 milhões.
Além dos ajustes e fraude na licitação, houve pagamento de propina a funcionários da diretoria de Serviços da Petrobras e a Paulo Ferreira.



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