quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Para PMDB, governo Dilma sofre apagão político



O relacionamento de Dilma Rousseff com o partido do vice-presidente Michel Temer atingiu um grau inédito de deterioração. O principal problema é que o PMDB é incapaz de reconhecer a lealdade da presidente da República. E ela é incapaz de demonstrá-la. Na avaliação da cúpula do principal sócio do petismo, a articulação política do governo sofre uma pane. Na noite passada, um cacique peemedebista chamou o fenômeno de “apagão político”.

Segundo esse diagnóstico, Dilma vem perdendo todas as oportunidades que a conjuntura lhe oferece para se achegar ao PMDB. Em consequência, a presidente começa a se tornar uma oportunidade que o PMDB aproveita. A animosidade do Planalto ajudou a resolver a divisão interna da legenda. Antes, havia pelo menos dois PMDBs: o da Câmara e o do Senado. Hoje, esses grupos operam juntos —em sintonia com Temer, um vice que Dilma insiste em tratar como versa.

Desde o reinício das atividades legislativas, em 1º de fevereiro, Dilma sofre uma derrota atrás da outra. Todas têm algo em comum: as digitais do PMDB. Só nesta terça-feira, foram duas, ambas na Câmara. Numa, Eduardo Cunha levou a voto, em turno final, a emenda constitucional que obriga o governo a desembolsar as verbas destinadas pelos congressistas aos seus redutos eleitorais.

Noutra, Eduardo Cunha entregou a um oposicionista, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a presidência da comissão especial que colocará em pé uma proposta de reforma política. O ponto de partida é um anteprojeto cujo conteúdo é o avesso de tudo o que o PT e Dilma gostariam de ver aprovados numa reforma do gênero. O relator da comissão será o peemedebista Marcelo de Castro (PI). Reservou-se para o PT uma insignificante vice-presidência.

Cunha faz tabelinha com Renan Calheiros, que também retira das gavetas do Senado propostas de alterações na legislação político-eleitoral. Planeja-se uma conciliação das propostas. A ideia é preparar um texto comum, para ser votado nas duas Casas legislativas ainda no primeiro semestre. Está combinado que ficarão de fora dois dogmas do PT: o fim do financiamento privado e o voto em lista. A Constituinte exclusiva do PT e o plebiscito de Dilma também irão para o beleléu. Com sorte, o Planalto obterá um referendo. Se bobear, nem isso.

Aos poucos, o espírito irritadiço do PMDB se espraia por todo o condomínio governista. A insatisfação é maior na Câmara. Mas começa a contaminar os aliados do Senado. As duas Casas tramam juntas o próximo bote. Planeja-se derrubar o veto de Dilma à correção de 6,5% na tabela do Imposto de Renda. A votação deve ocorrer em 24 de fevereiro, numa sessão do Congresso, com deputados e senadores.

O Planalto alegou que Dilma passou o percentual de 6,5% na faca porque o Tesouro só conseguiria suportar uma correção de 4,5%. Eduardo Cunha avisou: se quer corrigir a tabela do IR em percentual menor, o governo precisa enviar uma nova proposta ao Congresso, negociando sua aprovação. Do contrário, não restará aos aliados senão ressuscitar os 6,5% que a presidente vetou.

Na prática, Dilma e o PT estão sendo desligados da tomada pelos partidos que deveriam prover a propalada governabilidade. Deu-se algo inusitado: em troca da perspectiva de obter apoio congressual, Dilma formou um ministério loteado e convencional. Arrostou o desgaste. E não vem obtendo a contrapartida. No geral, as bancadas dão de ombros para os pedidos dos “seus” ministros.

Num instante em que o PT é segregado pelos demais partidos, Dilma constituiu um conselho político 100% feito de petistas. Integram o grupo cinco ministros: Aloisio Mercadante (Casa Civil), Pepe Vargas (Relações Institucionais), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência), Jaques Wagner (Defesa) e Ricardo Berzoini (Comunicações). Por que Temer foi excluído desse colegiado?, perguntam-se os peemedebistas, sem obter resposta.

Pepe e Mercadante, os dois principais operadores políticos da presidente, não são levados a sério pelos peemedebistas. “Volta e meia, alguém vai conversar com o Mercadante e não volta nunca mais”, diz um dos generais do PMDB, antes de criticar a “arrogância'' do chefe da Casa Civil. “Quanto ao Pepe, virou piada”, acrescenta. “Ele é do tipo que, para pregar um prego sem martelar o dedo, precisa segurar o martelo com as duas mãos.”

A atmosfera belicosa restituiu ao Palácio do Jaburu a aparência de Quartel General. A exemplo do que já ocorrera no primeiro mandato de Dilma, a residência oficial de Temer tornou-se ponto de encontro dos irascíveis dirigentes do PMDB. Formou-se ali um consenso. Avalia-se que Dilma precisa retomar a iniciativa política antes do final do mês. Por quê?

A deterioração do cenário tende a se aprofundar depois que a Procuradoria da República der à luz os pedidos de investigação contra políticos enroladas na Operação Lava Jato. Diante do pé d’água, Dilma pode não encontrar nenhum guarda-chuva quando olhar para os lados. Quem tiver um, vai abri-lo sobre a própria cabeça, tentando se molhar o mínimo possível.

“Quando a popularidade sorria para a presidente, até os piores defeitos dela se pareciam muito com virtudes'', ironizou um dirigente do PMDB em conversa com o repórter. “Depois que o Datafolha revelou os humores da rua, tem gente achando que Dilma não merece nem 'bom-dia'.''

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