O procurador-geral, Rodrigo Janot, durante o fórum |
O Fórum de Davos abraçou a Operação Lava Jato, por mais que tenha sido a
responsável pela prisão de alguns empresários de grosso calibre, entre
eles Marcelo Odebrecht, indicado "jovem líder global" pelo Fórum Econômico Mundial, que organiza todo janeiro esse grande convescote de personalidades.
Pouco antes, Cartes qualificara de "histórica" a Lava Jato, em um debate
sobre o futuro da América Latina em que Janot nem sequer estava
inscrito para falar.
Mas foi convidado a fazê-lo certamente porque "antigamente, sabíamos os
nomes dos generais, hoje sabemos os nomes de juízes e procuradores",
como festejou Rebeca Grynspan, responsável pela Secretaria Geral
Iberoamericana.
O abraço continuou até depois da sessão: mal se levantou para sair,
Janot foi cercado por um empresário mexicano que não apenas o
cumprimentou como pediu conselhos sobre como proceder no caso de seu
país –tradicionalmente foco de denúncias de corrupção.
Janot foi chamado a falar pelo moderador, o acadêmico venezuelano
radicado nos EUA Ricardo Hausmann (Kennedy School of Government), para
quem a Lava Jato é algo que "não imaginávamos antes" e que pode servir
de exemplo para "combater a corrupção no resto da região".
Janot agradeceu e atribuiu o sucesso da operação até agora à
"independência do sistema judicial do Brasil, seja do Ministério
Público, seja dos juízes".
Na véspera, em conversa com a Folha,
o procurador-geral havia dito que nunca havia sofrido pressões do
Executivo, nem no governo anterior nem no atual. Mas frisou que só
falava do Executivo, não do Legislativo.
Janot citou dois pontos principais para os resultados obtidos: a
independência institucional do Ministério Público [um dos principais
produtos da muito criticada Constituição de 1988] e a cooperação com
seus congêneres latino-americanos.
Citou em especial a do Paraguai, talvez como gentileza pela presença na sala do presidente Cartes.
Cartes, ao ser eleito, foi acusado de ser o principal responsável pelo
contrabando de cigarros falsificados para o Brasil. Mas o ruído amenizou
bastante depois da posse e nos anos mais recentes.
Janot louvou também a cooperação do Ministério Público suíço, graças à qual foi possível "localizar valores ocultos na Suíça".
Moisés Naím, outro acadêmico venezuelano radicado nos Estados Unidos
(Centro Carnegie para a Paz Internacional) e ex-colunista da Folha,
elogiou, por sua vez, o fato de a Lava Jato ter "tocado os mais
poderosos na sociedade, o que está sendo feito institucionalmente".
Emendou o presidente Cartes: "O que está acontecendo no Brasil com o Ministério Público é um exemplo para o mundo".
"Sí, se puede", gritou, como torcedor, o mexicano Ángel Gurría,
secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico), o clubão das 34 economias mais relevantes do
mundo, da qual o Brasil só não é parte porque não quer.
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POLÍTICA E ECONOMIA