Ricardo Moraes- 17.nov.2016/Reuters | |
Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, na sede da PF |
O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, determinou a
prisão preventiva da advogada Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador
Sergio Cabral (PMDB-RJ), preso pela Operação Calicute.
O magistrado atendeu a pedido do Ministério Público Federal, que
entendeu haver provas de que a ex-primeira-dama recebeu propinas de
Cabral por meio de seu escritório de advocacia. Ela também teria lavado
dinheiro por meio da compra de R$ 6,5 milhões em joias entre 2007 e
2016.
Em outra decisão, o magistrado aceitou a denúncia contra o casal e
outras 11 pessoas sob suspeita de envolvimento na cobrança de propina.
Na ação, os procuradores da força-tarefa denunciam o grupo pelos crimes
de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa nas obras para a
urbanização em Manguinhos (PAC Favelas), construção do Arco
Metropolitano e reforma do estádio do Maracanã para a Copa de 2014.
ADRIANA ANCELMO
Adriana Ancelmo se entregou à Justiça por volta das 17h desta terça.
Chegou ao prédio da Justiça Federal, na zona portuária do Rio,
acompanhada de advogados e depois será encaminhada para a Polícia
Federal.
Quando a operação foi deflagrada, em novembro, Bretas havia negado o
pedido de prisão de Ancelmo. O magistrado afirma que o cenário
apresentado pela procuradoria se modificou.
A decisão acolhe pedido do Ministério Público Federal.
"Ocorre que, segundo o órgão ministerial, o aprofundamento das
investigações revelou que Adriana Ancelmo, na verdade, ocuparia posição
central na organização criminosa capitaneada por seu marido", justificou
o juiz, na decisão desta terça (6).
Segundo a Procuradoria, ela seria uma das principais responsáveis por
ocultar recursos recebidos indevidamente por Cabral, usando seu
escritório de advocacia e "verdadeira fortuna em joias de altíssimo
valor".
O magistrado levanta também suspeita de ocultação de joias adquiridas
com recursos de propina. No dia 17, data da deflagração da Operação
Calicute, foram apreendidas 40 joias. As investigações indicaram que
Cabral e Ancelmo adquiriram 189 joias desde o ano 2000.
"Tal constatação, como afirma o MPF, permite a conclusão de que a
investigada Adriana Ancelmo permanece ocultando tais valiosos ativos,
criminosamente adquiridos, eis que ainda não apreendidos pela Polícia
Federal no cumprimento da ordem cautelar emanada deste Juízo,
demonstrando a necessidade de renovação da medida cautelar anteriormente
deferida."
A advogada também não esclareceu, segundo o magistrado, depósitos
milionários feitos por empresas sob investigação para o escritório.
Funcionários indicaram em depoimento não reconhecer essas companhias
como clientes da banca de advocacia.
Reforçaram as acusações contra Ancelmo depoimentos que indicaram que
Luiz Carlos Bezerra, acusado de operar a propina, frequentava seu
escritório e repassava dinheiro vivo para a advogada.
Em sua decisão, o magistrado afirma que decidiu pela prisão mesmo com
"eventuais dificuldades que se apresentarem em relação à guarda de
filhos menores da representada". Ele pondera com ironia questão.
"A expectativa é de que a medida cautelar extrema dure pelo menor tempo
possível, equiparável talvez a uma confortável viagem à Europa que
Adriana Ancelmo viesse a fazer, sem seus filhos, na companhia de amigos e
colaboradores", diz a decisão.
O casal tem um filho de 10 e outro de 14 anos.
"Em complemento ao que acima foi dito, percebo ainda que a referida
norma processual penal tem como razão de existência uma situação social
bem diversa do presente caso, como na imensa maioria dos processos
criminais que tramitam pelos tribunais nacionais, em que mulheres presas
não têm condições financeiras de cuidar dos filhos menores de 12 anos e
igualmente não dispõem de parentes próximos que as possam acudir nessa
situação adversa. Não é este o caso de Adriana Ancelmo", complementa o
magistrado.
Além da prisão preventiva, o juiz autorizou busca e apreensão na casa de
Ancelmo, para o recolhimento de documentos, mídias e outras provas,
assim como joias, pedras preciosas, objetos de arte e valores em espécie
acima de R$ 30 mil ou US$ 10 mil.
Preso desde o dia 17 de novembro, Cabral e outros 15 investigados pela
Operação Calicute foram denunciados na semana passada à Justiça pelos
crimes de corrupção passiva e ativa, organização criminosa, lavagem de
dinheiro, entre outros.
Cabral e sua mulher negam envolvimento em irregularidades.
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