Dilma Rousseff: presidente cassada chefiava o conselho de administração
da Petrobras quando foi aprovada a compra de 50% da refinaria
24/09/2016 09:30Brasília - Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) pede que ex-integrantes do Conselho de Administração da Petrobrás, entre eles a ex-presidente Dilma Rousseff, sejam responsabilizados e tenham os bens bloqueados por perdas na compra da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA).
É a primeira vez que o setor de auditoria da corte propõe tornar
indisponível o patrimônio dos ex-conselheiros por prejuízos no negócio,
investigado na Operação Lava Jato.
A área técnica do tribunal analisa a culpa de Dilma e de outros ex-membros do colegiado também nas maiores obras da estatal.
O parecer obtido pelo Estado foi concluído no último dia 19 e é
subscrito pelo chefe da Secretaria de Controle Externo da Administração
Indireta do TCU no Rio de Janeiro (Secex Estatais), Luiz Sérgio Madeiro
da Costa.
Ele divergiu de auditora que avaliou a transação e, dias antes, havia
reiterado entendimento do tribunal de isentar o conselho, aplicando
sanções apenas a ex-dirigentes que tinham funções executivas. Desde
2014, ex-diretores da companhia têm os bens bloqueados.
Dilma era ministra da Casa Civil do governo Lula e presidente do
Conselho de Administração em 2006, quando foi aprovada a aquisição dos
primeiros 50% da refinaria.
O secretário pede que os ex-conselheiros sejam considerados responsáveis
solidários por perdas de ao menos US$ 266 milhões (R$ 858,3 milhões). O
bloqueio, inicialmente por um ano, visa a cobrir eventual ressarcimento
à estatal.
Além de Dilma, estão na lista o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda e
Casa Civil), os empresários Cláudio Haddad e Fábio Barbosa, o general
Gleuber Vieira e o ex-presidente da companhia José Sergio Gabrielli -
como integrava também a Diretoria Executiva, este último já está com os
bens bloqueados. O grupo participou da reunião que aprovou a compra em
2006.
A estatal pagou, inicialmente, US$ 359 milhões ao grupo belga Astra Oil,
que, no ano anterior, havia desembolsado US$ 42 milhões por 100% dos
ativos.
Em março de 2014, o Estado revelou que a então presidente da República
votou a favor do negócio. Ela disse que só deu seu aval porque se baseou
em "resumo tecnicamente falho" que omitia cláusulas das quais, se
tivesse conhecimento, não aprovaria.
Após um desacordo, a Astra acionou uma dessas cláusulas, que lhe
assegurava o direito de vender sua fatia em Pasadena à estatal. Em 2012,
a Petrobrás pagou US$ 820 milhões pelos 50% remanescentes à empresa
belga.
Em 2014, ao bloquear bens de ex-diretores, o TCU concluiu que a perda total pela compra foi de US$ 792 milhões (R$ 2,5 bilhões).
Em relatório anexado a um desses processos, que traz a análise sobre a
maior parte das perdas (US$ 580 milhões ou R$ 1,8 bilhão), a auditora da
Secex Estatais Maria Lúcia Samico defendeu responsabilizar não só os
ex-diretores já implicados em 2014, mas outros cinco ex-funcionários da
Petrobrás que negociaram com a Astra.
No entanto, reiterou que o conselho não tem culpa pelos prejuízos, pois
não detinha as informações necessárias para antever que o negócio seria
nocivo. O parecer não discute as delações premiadas da Lava Jato, entre
elas a do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, informando que Dilma
conhecia em detalhes a compra.
Dever de diligência. O chefe da secretaria contestou as conclusões.
Para ele, Dilma e os demais ex-integrantes do conselho descumpriram
normativos da Petrobrás e a Lei das Sociedades por Ações ao não
"acompanhar a gestão da Diretoria Executiva" por meio da "análise devida
das bases do negócio" e ao não solicitar "esclarecimentos mais
detalhados sobre a operação", antes de autorizá-la. Com isso, argumenta
ele, violaram o "dever de diligência" para com a companhia.
Os pareceres foram enviados ao relator dos processos, ministro Vital do
Rêgo, e ao procurador-geral do MP de Contas, Paulo Bugarin, que vão
apresentar suas considerações. Depois, o caso será pautado para
julgamento. Não há previsão.
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