segunda-feira, 17 de abril de 2017

Miro Teixeira: ‘Está na hora de os ministros investigados pedirem demissão’

Deputado diz que governo perderá a legitimidade se mantiver 8 ministros investigados na Lava-Jato

Miro defende a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte para desregulamentar o Brasil. - Michel Filho/07-10-2015

BRASÍLIA — Decano da Câmara, em seu 11° mandato, deputado federal Miro Teixeira (Rede-RJ) diz que governo Temer perderá a legitimidade se mantiver oito ministros investigados pela Lava-Jato. Ele disse ainda que o excesso de regulamentação no Brasil propicia a corrupção.

O senhor é o decano do Congresso e não está na lista do Fachin. Como escapou?
Tem muita gente que não se envolve em corrupção no Congresso. A reflexão é outra, não é numérica. O que está se passando no Brasil é que há um excesso de regulamentação, que leva as empresas a precisarem cada vez mais de favores do Estado. Há muitos anos defendo uma Assembleia Nacional Constituinte porque precisamos desregulamentar o Brasil. O excesso de regulamentação facilita a corrupção.

Diante desse quadro, qual a saída?
É preciso convocar uma nova Assembleia Constituinte, porque a nossa Constituição de 1988 já tem 98 emendas aprovadas. Em tramitação, acho que são 350 no Senado e 850 da Câmara. A Constituição está virando um periódico.

Como se sobrevive a uma campanha sem caixa dois e troca de favores?
 Muita gente tem contribuintes de campanha que são pessoas que confiam no mandato, que querem um país democrático. Funciona assim: o contribuinte paga a contribuição oficial, declarada e tudo mais. Mas quem se arrisca a trabalhar com caixa dois está cruzando a linha, a partir da qual ele se torna refém. E não tem ingenuidade nenhuma, porque em algum momento vai ter um pedido de troca. Ninguém conversa com o diabo só quando quer. Acho até que tem casos de pessoas que de boa fé oferecem doações por fora, dizem que não querem aparecer porque o governo vai perseguir.

E o fato de todos os ex-presidentes vivos terem sido citados nas delações da Odebrecht? Principalmente o Lula, de quem o senhor foi ministro duas vezes.
Citação não quer dizer que haja culpa. Dos presidentes eleitos depois da ditadura, tivemos o Collor e Dilma, que sofreram impeachment, Lula, que está respondendo na Justiça, e sobrava o Fernando Henrique, cuja situação ainda não está muito clara. Desde a redemocratização tivemos sucessivas crises: a CPI do Collor, a CPI dos Anões do Orçamento. Então, a história da democracia no Brasil não preservou a honra, a higidez, a licitude de procedimentos. A democratização, com a Constituição de 1988, garantiu o fim da tortura, assegurou os direitos individuais, assegurou o funcionamento dessas instituições, mas ela agora deve ser atualizada.

Como vê a situação do governo Michel Temer, que tem oito ministros investigados?
O Presidente da República fez um gesto de determinar uma linha de corte, agora está na hora de os ministros fazerem um gesto e pedirem demissão, ou o Temer não vai conseguir governar. O povo não reconhecerá a legitimidade do governo em nada com um monte de ministros arrolados em investigações. Eles são inocentes até que se prove o contrário, mas não basta, é preciso ter as atitudes que melhorem as condições do governo. Esses ministros têm o dever de sair. Saiam e deixem o presidente trabalhar.

A Lava-Jato pode levar a uma eleição de um aventureiro em 2018?
Há muitos anos já constatamos que o povo vota em pessoas, não em partidos. Isso não é uma crítica, isso é bom. Essa história de criar uma lista fechada, por exemplo, é uma conversa fiada, isso é insustentável e lamentável. Isso é retirar o direito de voto direto do povo, recriar o deputado biônico é uma loucura. Acho que não haverá um salvador da pátria. Se não pensarmos nas instituições, numa Constituinte, em organizar a estrutura da vida do país, não adianta, qualquer pessoa vai dar errado. No caso do Collor, o povo escolheu o discurso, a pessoa, e o povo é enganado ali. Mas hoje é muito mais fácil pelas redes sociais e sites você desmistificar uma figura desse tipo, então não vai acontecer graças a isso.

Acredita que a polarização vai continuar entre PT e PSDB, com o PMDB orbitando em torno do poder?
Depende dos nomes que serão postos. Se Lula for candidato, vai ser um nome muito forte, o que não quer dizer que qualquer candidato do PT é um candidato forte. A Marina Silva é uma candidata muito forte também. Vejo o (Geraldo) Alckmin (governador de São Paulo), que não é de se subestimar. Tem o (João) Doria (prefeito de São Paulo) crescendo no PSDB. Mas não vejo outros com expressão para estarem no segundo turno.

O senhor vê o futuro com otimismo?
O dia em que eu deixar de ser otimista eu largo a política. (risos). A política só é permitida aos otimistas, senão como você vai entrar no ringue? Você tem que continuar lutando, tem que acreditar na luta. Eu acredito. Tem um estudo fantástico de um professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) sobre o Brasil em que ele resume em três coisas: incompetência, impunidade e corrupção. E eu acrescento: você escolhe a ordem. Acho que o Brasil esgotou o ciclo da impunidade, pelo menos da segurança da impunidade, e agora a corrupção está ameaçada pelo esgotamento do fim da impunidade. Falta resolver a incompetência, que é a máquina pública.




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