Com o objetivo de estimular o mercado de crédito, num momento em que a
atividade mostra fraqueza, o Banco Central anunciou nesta sexta-feira
redução no recolhimento de parte dos compulsórios e no requerimento de
capital para risco de crédito ao varejo, medidas com potencial para
injetar 45 bilhões de reais na economia.
Especialistas avaliam, no entanto, que as medidas não devem ter grande efeito na oferta de empréstimos.
"(As
medidas) devem ter um impacto limitado no crescimento do crédito, uma
vez que a recente desaceleração do crédito é alimentada pela pior
percepção de risco de crédito, dada a visível desaceleração econômica e o
risco de desemprego crescente", afirmou o diretor de pesquisa econômica
do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos.
No caso do
compulsório (parte dos recursos dos bancos que fica depositada no BC, ou
seja, fora de circulação), a autoridade monetária "decidiu adotar
medidas com vistas a melhorar a distribuição da liquidez na economia",
um dia após ter deixado claro que não pretende baixar a taxa básica de
juro diante da inflação ainda pressionada.
O BC disse ainda, em
nota, que a medida foi tomada levando em consideração a recente
moderação na concessão do crédito, inadimplência relativamente baixa e
menor nível de risco no sistema financeiro nacional.
Entre as
medidas de compulsório, com potencial de liberar 30 bilhões de reais
para uso no mercado de crédito, o BC permitiu que até 50% do
recolhimento compulsório sobre depósito a prazo sejam cumpridos com
novas operações de crédito e na compra de carteiras diversificadas
(pessoas jurídicas e físicas).
Em um segundo comunicado, o BC
divulgou ajustes em critérios sobre o requerimento mínimo de capital
para risco de crédito das operações de varejo, permitindo "alocação de
capital mais compatível com o histórico de pagamentos da operação". O
capital adicional requerido nas operações de crédito em função do prazo
original de contratação passa a ser pelo prazo remanescente, isto é, até
o vencimento.
Segundo o chefe do Departamento de Regulação do
Sistema Financeiro do BC, Sérgio Odilon dos Anjos, a medida relacionada
ao crédito ao varejo tem potencial para liberar cerca de 15 bilhões de
reais.
Os bancos têm mostrado mais cautela na oferta de
empréstimos, diante do baixo crescimento do país e menor oferta de
emprego. Para este ano, o BC prevê que o estoque total de crédito no
Brasil crescerá 12%, menos do que os 14,7% em 2013.
Contradição?
As
medidas de estímulo ao crédito foram divulgadas no dia seguinte ao BC
ter deixado claro que não vai reduzir a Selic, atualmente em 11% ao ano,
porque vê que o cenário inflacionário ainda está pressionado.
Na
ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada na quinta-feira, o
BC acabou lembrando as medidas macroprudenciais de 2010 o que, para
alguns analistas, já era indicação de que alguma mudança poderia vir.
Com
as alterações no compulsório e no requerimento de capital para risco de
crédito no varejo, o BC estimula o mercado de financiamentos de forma
mais pontual, evitando que uma ação mais ampla de política monetária
acabe tendo impacto maior na economia.
"O BC não deve mexer na
taxa de juros tão cedo... Está recorrendo às medidas macroprudenciais
para prover algum alento ao mercado de crédito. As medidas ocorrem em
boa hora, mas, dada a conjuntura adversa para o consumo, devem ter
impactos limitados", afirmou em nota a equipe da Rosenberg Associados.
Ramos,
do Goldman Sachs, avalia que a tentativa de estimular o crédito com as
medidas desta sexta-feira "em um ambiente ainda de inflação elevada pode
minar a efetividade da política monetária e a busca contínua para
desinflacionar a economia e realinhar a inflação para a meta".
Questionado
se as medidas para crédito são contraditórias com a política monetária,
o chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do BC não
respondeu.
A assessoria de imprensa do BC comunicou que as novas
medidas "em nada alteram" as projeções de inflação da autoridade
monetária. "(O BC) acabou de divulgar a ata (do Copom) onde consta a
descrição do cenário para inflação. Além disso, cabe destacar, como está
claro na ata, nesse cenário leva-se em conta a evolução esperada para o
mercado de crédito", informou.
O BC estima que a inflação medida
pelo IPCA fechará este ano a 6,4%, muito perto do teto da meta oficial
--de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos.
Para 2015, o BC vê o índice em 5,7%.
Bancos aprovam
A
redução em exigências em depósitos compulsórios e os menores
requerimentos de capital para certas operações de financiamento
anunciadas nesta sexta-feira pelo Banco Central foram recebidos com
unânime aprovação pelos presidentes dos maiores bancos privados do país
"As
medidas são muito positivas", disse à Reuters o presidente-executivo do
Bradesco, Luiz Carlos Trabuco. "Terão efeito sobre a percepção dos
bancos."
Em comunicado, o presidente-executivo do Santander
Brasil, Jesús Zabalza, afirmou que as mudanças devem estimular a
ampliação do crédito. "Avaliamos que devem ter reflexos positivos sobre a
atividade econômica", disse.
Bradesco e Santander Brasil abrem na
próxima quarta-feira a temporada de divulgação de resultados do setor
bancário brasileiro no segundo trimestre. Previsões preliminares de
analistas apontam que os bancos privados devem mostrar nova rodada de
crescimento fraco dos financiamentos.
Entre as medidas anunciadas
pelo BC está a permissão para que até 50% do recolhimento compulsório
sobre depósito a prazo seja cumprido com novas operações de crédito e na
compra de carteiras diversificadas (pessoas jurídicas e físicas).
Trabuco
calcula que só para o Bradesco essa medida vai liberar cerca de 6
bilhões de reais de recursos extras, que poderão ser empregados na
oferta de empréstimos.
Noutra frente, o BC ajustou critérios de
requerimento mínimo de capital para risco de crédito das operações de
varejo, permitindo "alocação de capital mais compatível com o histórico
de pagamentos da operação". O capital adicional requerido nas operações
de crédito em função do prazo original de contratação passa a ser pelo
prazo remanescente, isto é, até o vencimento.
"Para nós, essa
flexibilização pode aumentar em pouco mais de 10 bilhões o crédito sem
necessidade adicional de capital", disse Trabuco.
A desaceleração é
liderada pelos bancos privados, que vêm avançando em ritmo equivalente a
cerca de metade da média de Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.
"Vejo
de forma positiva as iniciativas, pois criam condições de aumentar o
crédito em alguns segmentos do mercado onde a liquidez estava menos
folgada", afirmou o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, em
comunicado à imprensa.
Consultados, a Caixa e o Banco do Brasil
não se pronunciaram. Reservadamente, uma fonte afirmou que as medidas
são positivas, mas que o impacto ainda está sendo analisado.
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POLÍTICA E ECONOMIA