Ex-presidente diz à TV portuguesa que presos no mensalão não eram ‘gente de minha confiança’
São Paulo - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
disse em entrevista exibida na noite de sábado, 26, pela Radio e
Televisão de Portugal (RTP) que o julgamento do mensalão teve "80% de
decisão política e 20% de decisão jurídica". Foi a primeira avaliação
direta do petista sobre a sentença que levou à prisão ex-dirigentes do
PT. Sobre os condenados, Lula afirmou: "Não se trata de gente da minha
confiança".
Reprodução
'História do mensalão ainda será recontada', repetiu o ex-presidente
Em novembro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal começou a
expedir as ordens de prisão dos condenados no mensalão. No Feriado da
República, apresentaram-se à Polícia Federal o ex-ministro da Casa Civil
José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino. Um dia depois, foi a
vez de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido, se entregar à PF. O
ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha foi preso em fevereiro. Todos
foram condenados por participar do esquema de compra de apoio político
no Congresso no início do governo Lula.
"O mensalão teve praticamente 80% de decisão política e 20% de
decisão jurídica. O que eu acho é que não houve mensalão", disse Lula na
entrevista em Lisboa, onde esteve na sexta-feira como convidado do
governo para a comemoração dos 40 anos da Revolução dos Cravos, que
redemocratizou o país após 41 anos de ditadura.
Em seguida, a jornalista Cristina Esteves perguntava sobre o fato de
pessoas da confiança do ex-presidente terem sido presas, mas foi
interrompida por Lula. "Não se trata de gente da minha confiança",
afirmou o ex-presidente. E emendou: "Tem companheiro do PT preso. E eu
também não vou ficar discutindo a decisão da Suprema Corte. O que eu
acho é que essa história vai ser recontada". Lula disse na entrevista –
que durou pouco menos de 40 minutos – que o processo do mensalão foi "um
massacre que visava a destruir o PT". "E não conseguiram."
Pouco antes de deixar a Presidência, no fim de 2010, Lula havia dito
que iria "desmontar a farsa do mensalão". Já fora do Palácio do
Planalto, o ex-presidente evitou fazer comentários sobre o julgamento,
que teve início a 2 de agosto de 2012 e levou à condenação de 25 dos 38
denunciados pelo Ministério Público.
No início do mês, Lula já havia dito em entrevista a blogueiros, em
São Paulo, que o mensalão deveria ser recontado e que era preciso
estudar a "participação e o poder de condenação" da mídia nesse
processo.
Dilma. Lula também aproveitou para defender o
governo de sua sucessora, Dilma Rousseff. A queda de popularidade da
presidente e a possibilidade de troca na chapa do PT que vai disputar a
eleição em outubro foi abordada na entrevista – e voltou a ser negada
pelo petista. "O Lula não é candidato. Eu não vou ser candidato. A Dilma
é uma mulher de extrema competência. Ela vai vencer as eleições",
afirmou.
O ex-presidente riu, pouco depois, ao ser provocado a falar sobre o
fato de sua popularidade não ter despencado com a de Dilma – que se
recuperava da queda provocada pelas manifestações de junho, mas
recentemente passou a enfrentar o desgaste das denúncias sobre
irregularidades na Petrobrás. "O povo é mais esperto do que algumas
pessoas imaginam", afirmou.
O ex-presidente comentou ainda a possibilidade de ocorrerem protestos
durante a Copa do Mundo e rebateu as críticas que têm sido feitas sobre
o custo dos estádios, dos aeroportos e de outras obras destinadas a
receber os jogos do Mundial. Lula afirmou que não se faz Copa do Mundo
"pensando só em dinheiro".
A entrevista teve longas conversas sobre política internacional e a
situação da economia europeia. A crise em Portugal foi marcante nas
celebrações dos 40 anos da Revolução dos Cravos. Provocado a analisar os
problemas do governo socialista de François Hollande na França, Lula
deixou um conselho: "Os políticos têm de assumir, decidir e dizer para
onde o país tem que ir".
★★★
'Desqualificação da Corte é fato grave e merece repúdio', diz Barbosa
Presidente do Supremo repudia críticas de Lula ao mensalão; em entrevista a uma rede de TV portuguesa, ex-presidente da República disse que julgamento foi 80% político e 20% jurídico
Brasília - O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, repudiou as críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao julgamento do mensalão.
"Lamento profundamente que um ex-presidente da República tenha
escolhido um órgão da imprensa estrangeira para questionar a lisura do
trabalho realizado pelos membros da mais alta Corte de Justiça do País",
disse.
Para o ministro, "a desqualificação do Supremo Tribunal Federal,
pilar essencial da democracia brasileira, é um fato grave que merece o
mais veemente repúdio. Essa iniciativa emite um sinal de desesperança
para o cidadão comum, já indignado com a corrupção e a impunidade, e
acuado pela violência. Os cidadãos brasileiros clamam por justiça".
Relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa disse que a tramitação do processo foi "absolutamente transparente". "Pela primeira vez na história do tribunal, todas as partes de um processo criminal puderam ter acesso simultaneamente aos autos, a partir de qualquer ponto do território nacional uma vez que toda a documentação fora digitalizada e estava disponível na rede."
O ministro acrescentou que as cerca de 60 sessões consumidas com o julgamento foram públicas, com transmissão ao vivo pela TV Justiça. "Os advogados dos réus acompanharam, desde o primeiro dia, todos os passos do andamento do processo e puderam requerer todas as diligências e provas indispensáveis ao exercício do direito de defesa."
Joaquim Barbosa disse ainda que todos os réus e o Ministério Público puderam indicar testemunhas. "Foram indicadas, no total, cerca de 600." O presidente do STF afirmou que a acusação e a defesa tiveram mais de quatro anos para trazer ao STF as provas de seus interesses. "Além da prova testemunhal, foram feitas inúmeras perícias, muitas delas realizadas por órgãos e entidades situadas na esfera de mando e influência do presidente da República, tais como Banco Central do Brasil, Banco do Brasil, Polícia Federal, Coaf."
"Portanto, o juízo de valor emitido pelo ex-chefe de Estado não encontra qualquer respaldo na realidade e revela pura e simplesmente sua dificuldade de compreender o extraordinário papel reservado a um Judiciário independente em uma democracia verdadeiramente digna desse nome."
Relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa disse que a tramitação do processo foi "absolutamente transparente". "Pela primeira vez na história do tribunal, todas as partes de um processo criminal puderam ter acesso simultaneamente aos autos, a partir de qualquer ponto do território nacional uma vez que toda a documentação fora digitalizada e estava disponível na rede."
O ministro acrescentou que as cerca de 60 sessões consumidas com o julgamento foram públicas, com transmissão ao vivo pela TV Justiça. "Os advogados dos réus acompanharam, desde o primeiro dia, todos os passos do andamento do processo e puderam requerer todas as diligências e provas indispensáveis ao exercício do direito de defesa."
Joaquim Barbosa disse ainda que todos os réus e o Ministério Público puderam indicar testemunhas. "Foram indicadas, no total, cerca de 600." O presidente do STF afirmou que a acusação e a defesa tiveram mais de quatro anos para trazer ao STF as provas de seus interesses. "Além da prova testemunhal, foram feitas inúmeras perícias, muitas delas realizadas por órgãos e entidades situadas na esfera de mando e influência do presidente da República, tais como Banco Central do Brasil, Banco do Brasil, Polícia Federal, Coaf."
"Portanto, o juízo de valor emitido pelo ex-chefe de Estado não encontra qualquer respaldo na realidade e revela pura e simplesmente sua dificuldade de compreender o extraordinário papel reservado a um Judiciário independente em uma democracia verdadeiramente digna desse nome."
Fonte: ESTADÃO