quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Alberto Youssef diz que corrupção na Petrobras atingiu alto escalão político

O doleiro Alberto Youssef afirmou à Justiça Federal que o esquema de corrupção na Petrobras tinha agentes públicos "mais elevados" que o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa.

Acusado de ser o operador de esquema que fraudou contratos da Petrobras, Youssef fez acordo de delação premiada e prestou depoimento na tarde desta quarta-feira (8).
"Não sou o mentor nem o chefe desse esquema. Sou apenas uma engrenagem desse assunto que ocorria na Petrobras. Tinha gente muito mais elevada acima disso, inclusive acima de Paulo Roberto Costa, no caso agentes públicos", afirmou Youssef. O advogado do doleiro, Antonio Figueiredo Basto, disse que seu cliente seguia ordens dos políticos que indicavam os diretores da Petrobras. 

Deflagrada em março pela Polícia Federal, a Operação Lava Jato descobriu um esquema de desvio de dinheiro da Petrobras que envolveu Costa, doleiros e fornecedores da estatal. Segundo a PF, uma "organização criminosa" atuava dentro da empresa. O esquema teria movimentado R$ 10 bilhões. 


Reprodução
O doleiro Alberto Youssef mostra equipamento que ele diz ter achado dentro da cela, na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba (PR)
Youssef mostra equipamento que ele diz ter achado dentro da cela, na carceragem da PF, em Curitiba 
 
DINHEIRO PARA CONSTRUTORAS
Indagado pelo juiz sobre quais empresas teriam participado do esquema na Petrobras, Youssef listou os nomes das companhias: Camargo Corrêa, OAS, Queiroz Galvão, Odebrecht, UTC, Jaraguá Equipamentos, Engesa, UTC e Tomé Engenharia. Em outros trechos do testemunho citou as empresas Andrade Gutierrez e Mendes Júnior, entre outras.

Ele afirmou ainda que Costa dividia os valores relativos aos contratos para repassar ao PT e ao PMDB.

"Na verdade Paulo Roberto fatiava um pouco essa questão de recebimentos de obras, porque ele também tinha que atender ao PMDB e às vezes alguém do PT", disse o doleiro.
A Folha revelou no dia 2 de outubro que o ex-diretor da Petrobras disse no acordo de delação premiada que recebeu US$ 23 milhões (o equivalente hoje a R$ 57 milhões) da Odebrecht em contas secretas na Suíça.

A empreiteira tem o terceiro maior contrato na obra da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, de R$ 1,48 bilhão, em valores de 2010. A Odebrechet nega com veemência que tenha feito qualquer pagamento a Costa. Segundo a empreiteira, todos os contratos com a Petrobras foram conquistados por meio de licitações.
 
JOÃO VACCARI NETO
Em depoimento à Justiça, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse nesta quarta-feira (8) que desvios de obras da Petrobras irrigaram as campanhas de três partidos nas eleições de 2010, de acordo com o advogado Antonio Augusto Figueiredo Basto, que defende o doleiro e acompanhou a audiência nesta quarta, em Curitiba. 

Segundo a Folha apurou, o executivo se referia ao PT, ao PMDB e ao PP. O dinheiro do suborno, de acordo com o ex-diretor da estatal, correspondia a 3% dos valores líquidos dos contratos. Esse percentual era dividido entre o próprio Costa e partidos políticos, segundo advogados que acompanharam o interrogatório. 

Em seu depoimento, Youssef disse que representou o PP na realização dos acertos financeiros relativos à Petrobras depois que o deputado federal José Janene ficou doente. "Eu passei a representar o partido", afirmou. O doleiro e Paulo Roberto Costa disseram que o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, intermediava os recursos desviados de obras da estatal para o partido. 


Sérgio Lima-4.mai.2010/Folhapress
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, durante audiência no Senado, em maio de 2010
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, durante audiência no Senado, em maio de 2010

No depoimento de Paulo Roberto, o juiz questionou quem eram os distribuidores da propina em "outras agremiações políticas", além do PP. O ex-diretor da estatal disse que "dentro do PT a ligação que o diretor do PT tinha, de Serviços, era o tesoureiro na época do PT, o senhor João Vaccari Neto. A ligação era diretamente com ele". O diretor de serviços, na época, era Renato Duque, que deixou a empresa em 2012 depois de oito anos comandando a área.

Paulo Roberto Costa disse ainda que, de 1% pago nos contratos das obras da área que ele comandava, 20% eram repartidos entre ele e o então presidente do PP, José Janene e, depois de sua morte, com Yousseff. Desses 20%, Paulo Roberto recebia 70% e os demais a Janene ou Yousseff.

Costa disse que recebia o pagamento em dinheiro vivo e relatou já ter recebido em casa, em um shopping, ou em seu escritório, depois que deixou a Petrobras. Perguntado se isso ocorria em outras subsidiárias, Costa afirmou que "a Transpetro tem alguns casos de repasses para políticos".

O ex-diretor da Petrobras afirmou ainda ter recebido R$ 500 mil das mãos do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, na casa dele, entre 2009 e 2010. Segundo o delator, o pagamento foi referente a licitação de navios pela Transpetro para a área de abastecimento.

O doleiro afirmou que "tinha uma outra pessoa que operava a área de serviços, que se eu não me engano era o Sr. João Vaccari". Youssef disse ainda que as empresas que faziam contratos com as áreas de abastecimento e de serviços da Petrobras tinham que pagar propina de 1% sobre dos valor do contratos.

O juiz Sergio Moro, responsável pelo processo do caso, indagou se o valor de 1% dos contratos da área de serviços passava por Paulo Roberto Costa e o Youssef respondeu: "Não, isso era para outro partido".

O doleiro citou ainda que o lobista Fernando Soares fazia essa intermediação para o PMDB e que ele próprio cuidava dos recursos que ia para o PT. "Tinha Fernando Soares que operava com Paulo Roberto Costa para o PMDB."
 
OUTRO LADO
Vaccari Neto disse que "todas as doações recebidas pelo PT são realizadas na forma da lei e as prestações de contas do partido são apresentadas regularmente às autoridades competentes". Ele confirmou, também, que nunca tratou de doações, nem de qualquer outro assunto relativo ao partido, com Paulo Roberto da Costa, e que "empresas estatais, como é o caso da Petrobras, são proibidas por lei de realizar doações para partidos". 

A secretaria de Finanças do PT afirmou que o depoimento de Paulo Roberto Costa está "carregado de afirmações distorcidas e mentirosas". O partido também ressalta que Vaccari Neto "nunca tratou sobre contribuições financeiras do partido, ou de qualquer outro assunto, com Paulo Roberto Costa". 

"Reiteramos que as contribuições financeiras recebidas pelo PT são transparentes e realizadas sempre de acordo com a legislação em vigor. Diante de tantas acusações infundadas, o secretário de Finanças vai processar civil e criminalmente aqueles que têm investido contra sua honra e reputação", disse a nota da sigla. 

Em nota, o PT afirmou que repudia com veemência e indignação as "declarações caluniosas" de Paulo Roberto Costa e que lamenta "que estejam sendo valorizadas as palavras do investigado, em detrimento de qualquer indício ou evidência comprovada". 

"O PT desmente a totalidade das ilações de que o partido teria recebido repasses financeiros originados de contratos com a Petrobras. Todas as doações para o Partido dos Trabalhadores seguem as normas legais e são registradas na Justiça Eleitoral. A Direção Nacional do PT estranha a repetição de vazamentos de depoimentos no Judiciário, tanto mais quando se trata de acusações sem provas." 

O partido também ressaltou que, por intermédio de seus advogados, analisa a adoção de medidas judiciais cabíveis. 

A Petrobras disse que vem acompanhando as investigações e colaborando efetivamente com os trabalhos das autoridades públicas. A estatal também disse que "está sendo oficialmente reconhecida por tais autoridades como vítima nesse processo de apuração".
 
PAULO ROBERTO COSTA
Costa saiu da prisão no última quarta-feira (1º), como parte do acordo em que decidiu que contaria o que sabe sobre corrupção na Petrobras em troca de uma pena menor —a perspectiva de seus advogados era que ele fosse condenado a 50 anos de prisão. 

O executivo foi preso em 20 de março pela PF. O ex-diretor também citou, em outro depoimento, segundo a revista "Veja", os nomes de 12 parlamentares que recebiam propina do esquema, entre os quais o do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Todos negam com veemência que tivessem recebido recursos. 








FOLHA - Uol

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